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04/01/2011

Wilson, 134° governante do Piauí

E o primeiro prenominado de Wilson. Já seu sobrenome o vincula à média aristocracia, literalmente proletária, vaqueira e pastoril, do Piauí central.


O cidadão que tomou posse neste dia 1.1.11, é, assim, um piauiense brotado do coração dos sertões amantalhados pela Vitória azulada da Mocha-Oeiras expandida. Em sua ancestralidade, um vaqueiro que virou visconde –titular da mais longeva era de governança pessoal que o Piauí conheceu em sua história política.


Martins evocou em seu discurso de posse sua nascença na Santa Cruz, ali numa sertania serrana aureolada de picos e locas talhadas, espécie de catedral cujo adro são valões acaatingueirados do pastoreio do Piauí original. Realçou sua trajetória de homem público, mencionando sua passagem pela política estudantil –“Fiz Medicina na UFPI. Como estudante, empunhei a bandeira pela redemocratização”.


Desse flagrante autobiográfico, faço um testemunho sobre ele e o Emeé, sua participação na luta estudantil do tempo. Era o ano de 1978, primeiro semestre, e o DCE encaminhava sua primeira eleição direta, ainda atrelada à burocracia oficial. Dois blocos (fortes) se formaram: um, centrado no CCHL, chamado Travessia, e outro, chamado Visão, centrado no CCN-CCS. Ganhou este, com o decidido apoio da Medicina, sob a liderança de Antonio e de seu primo Wilson Martins. Ficamos, nós da Travessia, na oposição, atuando politicamente através do GEG – Grupo de Estudos Gerais.


Ainda em 78, segundo semestre, mobilizamo-nos, somando ao próprio DCE, para realizar uma Jornada Universitária –então expressão pública possível da ação política dos estudantes. Em memorável reunião numa tarde de agosto/setembro, sala da Faculdade de Medicina, aparece-nos o líder do “Diretório 7 de Abril”, W. Martins, dando informes de “histórico" Encontro de Estudantes de Medicina, o Ecem, de que participara em Belém do Pará.


Qual era a surpreendente proposta do Wilsão (já então o chamávamos assim, sem pejo algum)? Trazer em Teresina, para a Jornada 78, nada mais, nada menos, que o festejado ícone Darcy Ribeiro, primeiro grande exilado que retornou, ex-ministro da Educação de Jango, figura luminosa, e por isso mesmo odiado pelos milicos. É que Darcy fora ao Encontro de Belém, encantando a todos, inclusive ao cruzmartino Wilson, voltado do Pará e engajado ao movimento Travessia, guardadas as reservas que a Medicina tinha em relação aos rumos da luta estudantil.


Veio 79 e uma nova campanha para o DCE, de muito acirramento. Candidato a presidente, procurei Wilsão, e ele e seu grupo indicou, em nome da Medicina, o estudante de Luís de Castro Bastos, o “Paulista”, para ser meu vice –vice da chapa Travessia (lembro que até o professor Paulo Zábulon entrou na tratativa). Assim concertados, fomos às eleições naquele maio, ganhamos disparado –com quase 70% dos votos válidos e mais de 80% dos votos da Medicina. A ASI/SNI, através do Cepex/Ufpi, vetou minha candidatura, na véspera, e o querido companheiro Luís Paulista assumiu o lugar e foi o presidente, naquele último mandato de pleitos atrelados ao estatuto da Universidade. Era o tempo de Sirley Ferreira, Raimundinho Santana, Marco Polo ...


Essa eleição é fato memorável na história da Ufpi: no plano nacional a UNE estava sendo reconstruída; aqui, os centros acadêmicos. A ditadura esvaía-se em deslegitimação. E logo os três Martins (Antonio, Walter e Wilson, irmãos e primos) aliados se formariam. Eu também, não sem antes (80-81) ser eleito para a primeira gestão do DCE, livre das leis da ditadura. Outra liderança, moderada, mas não reacionária, surgiria também ali na Medicina: Marcos Victor.


Wilson e Victor não seriam politicamente os mesmos desde essas experiências. Entrariam na política partidária junto com um simpatizante dos estudantes, Wall Ferraz.


Desse companheiro das lutas pela redemocratização, sempre notei um traço que considero imprescindível em quem assume a posição que agora ocupa: a coragem. Há certo debate na cidade sobre se ele traz dos avoengos Sousa Martins o arrebatamento das liberdades do vaqueiro ou o pulso vigoroso do visconde.


Né de Sousa Martins, de barão a visconde, o 17º governante do Piauí, afirmou, em dura contingência, a autonomia piauiense ante o devir; Wilson é o 134°. Entre um e outro, mais de cem homens titularizaram o governo do Piauí. E na presente estação do tempo, os desafios continuam enormes –para o governante e para todos nós, o povo.


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