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12/01/2011

Carvão consome a Mata Atlântica

A motosserra é a dona das matas no Sul do Piauí. Oficialmente, a produção chega a 10 mil toneladas de carvão/ mês. Mas ambientalistas garantem: quantidade igual a essa é produzida ilegalmente e a olhos vistos no Estado.

E esse não é o único crime. As empresas que exploram o negócio ainda extenuam os jumentos, ao sobrecarregar-lhes os lombos com carga excessiva de carvão e mais: também não protegem seus trabalhadores (que só têm os capacetes como equipamento de segurança). “É quente demais. Não tem outro trabalho, tem que fazer o que tem", diz o carvoejador Gisley Omélio.
 
A maior parte das carvoarias do Piauí fica em Morro Cabeça no Tempo. O município tem menos de cinco mil habitantes e é um dos mais pobres do Nordeste. "Se você tivesse vindo aqui nos anos 90, o clima era outro, bem mais agradável, bem mais fresco, dava pra viver muito bem. Hoje a gente percebe que é muito quente", observa a professora Luzia Luz Neto.
 
Parte desse calor é explicado pela alteração ambiental na região, visível a olho nu. A maior lagoa local já encolheu 30%. Os rios também estão secando e as nascentes, desaparecendo. Na Serra Vermelha, de grande importância ambiental, pois três biomas se encontram no mesmo lugar (Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica), nem essa peculiaridade parece contar.
 
As carvoarias desrespeitam a lei e o que é pior: com a conivência de quem deveria proteger a floresta. Isso porque elas têm licença de funcionamento dada pela própria Secretaria Estadual do Meio Ambiente, mesmo instaladas dentro da Mata Atlântica (seguramente o bioma mais ameaçado no Brasil). Soma-se a isso, o Ibama conta apenas com dois fiscais, para cobrir uma área do tamanho do Estado de Sergipe.
 
"Tem muita produção ilegal e o Ibama não dá conta. Dois servidores não dá para fazer. Muito do consumo das grandes siderúrgicas chega lá como legal, mas de produtores ilegais que não estão licenciados a fazer carvão e fazem carvão e vendem para terceiros", diz o analista ambiental do órgão federal no Estado, Hamilton Cavalcanti Júnior.
 
Para se ter a dimensão do estrago nas matas, a produção do Piauí (as duas, legal e ilegal) carrega cerca de 15 caminhões/ dia. O carvão viaja quase dois mil quilômetros quase sem barreira alguma nas estradas. O polo siderúrgico de Sete Lagoas, em Minas Gerais, geralmente é o destino de todo o carvão que sai do Estado. Muitos dos fornos - que produzem ferro gusa - se alimentam da destruição das matas nativas.
 
A luz no fim do túnel: uma nova lei florestal do Estado de Minas Gerais vai obrigar as empresas a consumir carvão vegetal apenas de floresta plantada. E estabelece um prazo para isso: a partir de 2017, quando 95% do carvão consumido pelas indústrias de ferro gusa deverão ser de floresta plantada. Até lá, também é fato: serão sete longos anos de destruição. Será que a natureza vai aguentar?

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